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Ana se abaixou rapidamente para recolher os folhetos, ainda trêmula e com o rosto pinicando de vergonha. E antes que ela pudesse se dar conta, Helena e Arthur estavam parados na sua frente.
– Ana?
– Oi! – disse, levantando num pulo.
– Caramba, é você mesmo! Tem anos que não te vejo! – exclamou Arthur, enquanto estendia os braços pra ela.
Ana ficou sem graça de abraçar Arthur daquele jeito, ainda mais na frente da sua chefe. Mas ela não poderia ignorá-lo, certo?
– Sim, faz tempo mesmo. – enquanto estava com a cara pressionada no peito dele.
Depois que foi liberada dos fortes braços de Arthur, Ana olhou para Helena, com as bochechas ainda coradas, um tanto quanto constrangida.
– Pelo visto, vocês são velhos conhecidos, não é? Vou deixar vocês conversarem um pouquinho já que estamos adiantados. Estarei à espera na sala de reuniões! – Helena olhou pra caixa nas mãos de Ana. – Ah, ótimo, você conseguiu pegar os panfletos… Me dê eles aqui!
Antes que Ana pudesse dizer qualquer coisa, Helena já tinha tomado a caixa de suas mãos e se afastava enquanto dava uma piscadela pra Ana.
– Como você tá? Nunca imaginei que te encontraria por aqui! – disse, animado.
– Ah, eu estou bem… e você? Achei que ia continuar morando no exterior… – Ana falou, num tom meio chocho.
– Estou bem também! Cheguei tem uma semana… Tava estudando em Londres e voltei para ajudar o pai na empresa. Mas me fale de você, Ana! – completou Arthur, naquele sorriso estonteante dele.
Falar o que? Ela pensou. A vida dela não tinha nada de tão interessante assim… Rotina, rotina e mais rotina. Nenhuma visita a Paris no currículo, na verdade, ela nem conhecia a Europa. Não por falta de vontade, é claro. A vida dela não tinha a menor graça se comparada a dele e ela se sentia pequena perto das experiências que Arthur já viveu…
– Ah, você sabe… Tudo na mesma! – sorriu discretamente.
– Ah, Ana! Que desânimo é esse? Você era tão empolgada quando tinha 15 anos, eu me lembro bem. – afirmou, dando uma piscadinha charmosa.
– Não é desanimo não, é que eu não sei o que você quer saber de mim. – ruborizou encolhendo os ombros.
– Ah, deixa disso! Você tem histórias ótimas… Seus pais estão bem? Meu pai sempre fala deles com muito carinho.
– Estão sim! Agora que eles se aposentaram voltaram pra casa do interior, meu pai adora uma calmaria… Mamãe sente mais falta da cidade, mas também gosta da tranqüilidade de lá. Lembra que eles adoravam ir ao sítio do seu pai? – aos poucos, ela ia se soltando com ele…
– Claro que eu lembro, vocês sempre iam lá nas férias. Bons tempos né Ana? Quando a gente não precisava se preocupar com trabalho, com contas a pagar…
– Realmente, era bom mesmo. – suspirou. -Mas e você? Gostou mesmo de morar fora hein?
– Ah, cara! É muito bom… Lembra que eu fiz aquele intercâmbio nos EUA no primeiro ano da faculdade?
Ana calculou mentalmente. Ela se lembrava perfeitamente… Era a última vez que ela tinha se encontrado com ele, na sua festa de despedida. Arthur tinha sido uma paixonite de sua adolescência. Cresceram amigos, trocaram uns beijinhos, nada sério… Arthur era dois, quase três anos mais velho. Mas a amizade tinha permanecido. A distância é que jogou uma pá de cal no relacionamento. Ele mandou alguns postais, Ana mandou umas cartas, depois uns e-mails. Mantiveram o contato por um ou dois anos, mas as circunstâncias acabaram abalando a amizade dos dois. Se antes Ana sabia até o sabor favorito de sorvete do Arthur, hoje ela não sabia nem se ele ainda tomava sorvete… – não com esse corpo, ela deduziu.
– Ana? – chamou Arthur.
– Desculpa, me distrai! Lembro, claro… – Ana balançou a cabeça, voltando à realidade.
– Então, a experiência foi muito boa… Depois que eu voltei, terminei a faculdade e logo em seguida emendei o MBA. Fiz uma parte aqui e cursei um semestre lá fora. Agora tô de volta, mas pretendo voltar a passeio sempre que eu puder. E você? Foi se aventurar na América Latina conforme o planejado? – perguntou, cheio de expectativa.
Ele também se lembrava dos velhos planos, que coisa. Por essa Ana não esperava.
– Que nada, Tu. – o velho apelido carinhoso voltou à tona. – Fiz uma viagem de 10 dias pra Argentina e só, assim que me formei. Presente do papai e da mamãe. Foi ótimo, mas o mochilão mesmo, eu não fiz…
– Quando quiser companhia sabe que pode me chamar, né?
Ana queria dizer que agora ela tinha um namorado. Mas como ela poderia falar isso sem parecer que estava dando uma cortada nele? Não que ele tivesse interessado, talvez ele tenha falado apenas na amizade, mas…
– Ah, obrigada. – sorriu, discretamente. – Então vamos lá? A Helena não para de espiar a gente.
– Sua chefe é bem gente boa! Estávamos conversando sobre um monte de coisa, ela é bem animada, hein? Ela é solteira? Acho que o papai gostaria dela. – e deu um risinho.
– A Helena é separada… Ela é ótima mesmo! Você já chegou dando uma de cupido, hein?
– Tenho achado ele muito sozinho, Ana. Acho que ela seria uma excelente companhia pra ele… Não custa nada dar um empurrãozinho, né? – ele deu de ombros enquanto sorria.
– É verdade… E acho que a Helena também poderia gostar do seu pai. O Rogério é bem bonitão!
– É, o coroa se cuida! – ele deu uma gargalhada.
Assim que entraram pela porta, Ana percebeu que Helena estava perguntando com os olhos de onde é que eles se conheciam. Ana adorava Helena, mas ela era um pouquinho enxerida…
– Helena, você acredita que eu e a Ana somos amigos de infância?
Isso Arthur, conta tudo pra ela! E perai, somos? – Ana pensou.
– Ué Ana, você não me falou que já conhecia o nosso cliente quando te contei da reunião… – Helena sorriu, maliciosa.
– É, eu não falei porque não associei as referências. Não imaginei que o Arthur estava de volta – e nem que o mundo seria tão pequeno. – completou baixinho.
Assim que discutiram o serviço a ser feito, Arthur colocou-se de pé.
– Eu cheguei aqui planejando uma coisa e vocês conseguiram me apresentar uma proposta mil vezes melhor! Tenho certeza que esse manual vai ficar bem acima das expectativas do meu pai e o orçamento também está dentro do planejado. Excelente!
– Que bom, Arthur! Espero que essa seja uma parceria de sucesso. – Helena estendeu as mãos para ele, que retribui num aperto de mão firme.
– Ana, vamos combinar um café qualquer dia desses? Temos muito o que conversar…
– Ah, claro. Depois a gente combina… – disse sem pensar. Afinal, era só um café com um velho amigo, né?
– Me passa o seu número… Eu perdi todos os meus antigos contatos.
Ela estendeu um cartão para ele, de modo cortês – aqui está. – e sorriu discretamente.
– Até mais, Helena! Até breve, Ana. – disse num sorriso convidativo.
Assim que ele saiu pela porta, Helena foi logo dizendo o que estava entalado.
– Que amigo hein? Se eu tivesse uma filha, queria que ela fosse namorada dele! Que homem lindo, educado, simpático… estou encantada! – ela suspirou – Você sabe que te considero como uma filha, né Ana? – ela completou de modo entusiasmado.
– É, to vendo! – Ana sorriu – Realmente, o Arthur é ótimo, mas eu estou namorando, Helena.
– Como assim você não me contou nada?
– É bem recente, é o Guilherme. Lembra dele? Já veio aqui na empresa algumas vezes…
– O Guilherme? Nunca pensei! Vocês esconderam muito bem! Ele é uma graça de menino… faço gosto, Ana! Você fez uma boa escolha. – ela piscou.
– Fiz sim, né? – Ana corou imediatamente. Só de falar o nome dele ela podia sentir seu sangue pulsando mais rápido nas veias.
Enquanto Ana finalizava uma correção de texto no computador, seu celular piscou em cima da mesa.
Deve ser o Gui… – pensou.
Mas não era.
Oi Ana, aqui é o Tu. Tô mandando a mensagem pra você salvar o meu número. Estou sorrindo até agora, acredita? Tava aqui me lembrando da nossa adolescência. Nunca pensei que te encontraria novamente de um jeito tão inesperado! Sinto muita falta das nossas conversas, desculpe por ter me distanciado de você durante esses anos… Me arrependo de verdade. Mas espero poder retomar o tempo perdido! Um beijo!
Com as mãos trêmulas, Ana pousou o celular sobre a mesa. Não ia responder, não agora. Seria ótimo restabelecer contato com Arthur, porém somente na amizade. E Ana não tinha certeza se ele estava com as mesmas intenções.
Ela já havia gostado muito de Arthur, além disso, ele era o seu melhor amigo e a conhecia tão bem… Porém, Guilherme tinha despertado novos sentimentos nela e estava sendo incrível conhecê-lo melhor. Ela finalmente estava se apaixonando de novo, depois de tanto tempo.
Por que é que quando as coisas estão indo tão bem, as memórias do passado resolvem voltar a vida?
(CONTINUA)