As dores e as delícias do primeiro encontro – Parte 10

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Era impossível negar que aquela mensagem despertou pensamentos adormecidos em Ana. O lance entre ela e André não tinha terminado muito bem. Eles já se conheciam há um tempo e começaram a sair juntos. Sempre quando André queria, é claro.

Ana acabou se envolvendo mais do que deveria, porque acabou criando expectativas demais em relação a ele. André nunca deixou muito claro que rumo teria aquele relacionamento, apesar de jurar de pé junto que estava saindo só com ela. Ana, inocentemente, foi aceitando a situação. Até que um dia resolveu colocá-lo na parede, (muitos meses depois do primeiro encontro) ele se fez de desentendido e disse que não queria nada sério! E ainda teve a audácia de dizer que ela estava precipitando as coisas!

Cada um foi pro seu lado e aquela mensagem era o primeiro sinal de vida de André após o “rompimento”.

Se pensasse somente com a razão, Ana devia ignorar a mensagem e fingir que nada tinha acontecido. Mas Ana era emoção e aquela mensagem a deixou muito intrigada. O que aquela criatura precisava falar com ela? Boa coisa não era, disso ela tinha certeza. Não, Ana não tinha mais sentimentos por ele. Mas não podia negar que estava curiosa.

– Ana? Ana!

– Hã? – Ela guardou rapidamente o celular na bolsa.

– Algo importante? – Perguntou Guilherme

– Nada relevante! Você pode pegar um suco pra mim?

– Claro – e se afastou.

– Amiga, vem cá. – Ana puxou Livinha pelo braço. – Você não vai acreditar quem me mandou mensagem.

– Não vou mesmo, quem?

– O André.

– Ai Ana, pelo amor de Deus! Como é que esse infeliz ainda tem o seu número?

– Não sei. Mas fiquei intrigada, por que ele apareceu depois de tanto tempo?

– Ana, não é óbvio? Idiotas têm um sexto sentido apurado. Percebem quando a gente tá feliz e surgem dos confins da terra pra infernizar a nossa vida. Ignora essa mensagem e a existência dele!

– É, você tem razão. Não tenho nenhum bom motivo pra dar ouvidos a ele, né?

– Me admira você ainda pensar na possibilidade.

– Ai amiga, tá bom! Vamos deixar esse assunto pra lá.

E ela deixou, por alguns minutos. Até que o celular apitou mais uma vez: “MENSAGEM RECEBIDA”.

Droga, essa curiosidade vai acabar me matando um dia. Vou ter que ver o que é, pensou Ana. E aproveitou que Guilherme estava distraído conversando com os meninos e se afastou para ler a mensagem sozinha.

“Ana, tenho certeza que você está ignorando as chamadas. É sério! Me liga mesmo, por favor. Eu realmente preciso falar com você. André.”

Então agora, além de tudo, ele sabia o que ela estava fazendo?

E o telefone tocou mais uma vez. Num ato impulsivo, Ana atendeu a ligação.

– Alô.

– Até que enfim Ana, to tentando te ligar desde cedo.

– Ué, eu tava ocupada. Na verdade, ainda estou. O que você tem pra falar?

– Então, as bodas de prata dos meus pais estão chegando… A festa é na próxima semana.

– Sei, e?

– Eu tava aqui pensando. Meus pais gostam muito de você e eu não tenho acompanhante pra festa.

– E?

– Então eu pensei. Você podia ir comigo, como minha acompanhante.

– Não posso.

– Como assim você não pode? Você não tá saindo sério com ninguém mesmo.

Meu deus, como ele era audacioso! – Primeiro que se to saindo ou não isso não te diz respeito. Segundo que to ocupada. Terceiro que… ah, não importa. Procura outra, eu não vou.

– Ah, já sei de tudo.

– Sabe o que?

– Você ainda tá com aquele Guilherme né… Ai Ana, você é bobinha né?

Ana não sabia por que ainda não tinha desligado o telefone. Ouvir as besteiras de André era uma perda de tempo. Ela afastou o telefone da orelha e enquanto estava deslizando o dedo para finalizar a chamada, ouviu de longe sua última frase:

– Ele ainda é apaixonado pela Marcela, só você não sabe disso!

O que? Como ele se atreve?

–  Tá ok. Agora tchau. – E desligou o telefone com as mãos trêmulas.

Aquilo era o cúmulo. Como André podia falar aquilo? Impressionante como ele não consegue sair perdendo… Ele sempre foi assim, um idiota.

Invenção ou não, Ana não podia negar que aquela frase ficou ecoando na sua mente por um bom tempo.

– Ei, Ana, chega mais! O que você tá fazendo ai? – chamou Guilherme.

– Nada – Disfarçou Ana, enfiando o celular na bolsa toda sem jeito.

-Alguma ligação importante?

– Não, era só alguém querendo remarcar uma reunião no escritório. – ela inventou a primeira desculpa que pode. Deu um meio sorriso e se aproximou da turma de novo.

Lívia percebeu de imediato que algo tinha acontecido à amiga. Sua expressão tinha mudado. O que antes era um sorriso sincero numa expressão relaxada virou um sorriso amarelo que não conseguia disfarçar preocupação. Assim, deu um jeito de chamar Ana pra um lugar mais reservado.

– Você atendeu ele né?

– Ah, esquece! Não vale a pena falar nisso.

– Claro que vale, olha como você tá. O que ele queria?

– Me chamar para uma festa, como se ainda tivesse alguma coisa comigo… Mas isso não tem importância. Eu ignorei. Só me tirou do eixo o que ele disse depois.

– Que foi?

– Ele disse que eu sou a única pessoa no mundo que não sabe que o Gui ainda é apaixonado pela Marcela.

– Ana, porque você tá dando ouvidos pra ele? O cara é um mentiroso!

– Não sei. Eu tenho aquela sensação que tem algo acontecendo em segundo plano, que eu não consigo ver. Por mais que eu adore estar com o Guilherme, ainda não sei se posso confiar nele.

– Que motivos ele te deu pra isso? É tudo tão recente…

– Eu sei que não existe justificativa pro que eu to pensando. Eu to colocando meus traumas passados em cima dele e isso não é justo…

– Sim… Ana, amiga… você precisa confiar. Cada história é uma história. Não jogue seu passado nos ombros do Guilherme, ele não tem culpa nenhuma! Essa relação tá só começando… dê tempo ao tempo!

– Você tem toda razão… Mas não sei, eu cheguei aqui e vi a Marcela conversando com ele, depois vem esse papo do André. Parece que se acontecer algo ruim depois, vai vir aquela voz na minha mente “eu te avisei”, não quero que isso aconteça de novo.

– Pois eu acabei de conhecer o Guilherme e acho que ele merece uma chance de te fazer feliz! Se não der certo, depois você chora comigo. Agora não, combinado?

– Combinado! – Ana deu uma piscadinha pra amiga.

– Agora vamos voltar pra lá! Desfaz esse beicinho e disfarça essa carinha ruim. Ninguém ligou, pense comigo! E vamos bloquear esse número da sua agenda o quanto antes…

Lívia tinha total razão, pensou Ana. Era absurdo desconfiar de Guilherme por causa de uma conversinha atravessada pelo celular. A Marcela é ex por um motivo e vai continuar sendo, ainda mais que agora ela vai pra casa da vó. Esse tempo fora vai ser ótimo pro relacionamento dela com Guilherme tomar rumo.

Um tempo depois, quando Ana já estava com a cabeça em outros assuntos, Guilherme apareceu com uma cara desnorteada.

– Ana, sinto muito! Preciso ir embora. Você vai comigo?

– Eita, o que aconteceu? Você parece bem nervoso!

– É a Luísa*! Aconteceu alguma coisa, a minha mãe não conseguiu me explicar direito… ela tá no hospital. Desculpa, eu preciso ir agora mesmo.

(*Pra quem não se lembra, Luísa é a prima de Guilherme que vai se casar)

– Algum acidente?

– Minha mãe tava chorando no telefone, não faço a menor ideia do que aconteceu.

– Meu Deus, eu vou lá com você se quiser!

– Sim, eu to nervoso pra dirigir agora. Você pode fazer isso por mim? Desculpa te tirar da festa.
– Imagina! A Luísa foi super gentil comigo quando nos conhecemos, quero estar lá por ela. Vamos agora mesmo.
Ana se despediu rapidamente de Lívia e Beto e acenou para Gustavo enquanto saía apressadamente com Guilherme.

É, aquele sábado estava longe de ter fim.

 

(CONTINUA)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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