As dores e as delícias do primeiro encontro – Parte 16

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Assim que fizeram os pedidos, espaguete à carbonara para Ana e nhoque à bolonhesa para Guilherme, aquele silêncio constrangedor tomou conta do ambiente.  Ana ainda estava meio envergonhada por ter tirado conclusões precipitadas sobre Guilherme, mas ao mesmo tempo, ainda queria fazer algumas perguntas sobre seu antigo relacionamento com a Marcela.

– Fala, Ana. Eu to vendo nos seus olhos que você quer me dizer alguma coisa. – ele disse num meio sorriso.

Meu Deus, eu sou tão transparente assim? – ela pensou. – Hmm, então, voltando ao assunto Marcela – disse, meio sem graça – posso fazer uma pergunta?

– Sabia que era isso! Pode… O que você quer saber?

– Então, como você me disse, a Marcela é afilhada da sua mãe, né?

– Sim…

– Você sempre foi apaixonado por ela? – disparou.

– Nossa, direta você hein? – ele arregalou os olhos, nitidamente constrangido.

– Ai, não era bem isso que eu queria dizer… – Ana corou imediatamente.

– Eu acho que entendi. Você quer saber quando eu percebi que a Marcela mexia comigo… quando ela deixou de ser só a afilhada da minha mãe, certo?

– É, isso! – ela respondeu baixinho.

– Então, é um pouco estranho pra mim te contar isso. – ele disse, encolhendo os ombros.

– É, eu fui muito invasiva mesmo… Deixa pra lá. É que fiquei curiosa com a situação e…

– Não, eu entendo. Vou te contar. A minha mãe é madrinha de batismo da Marcela, mas ela não foi batizada novinha. Deve ter sido sei lá, com uns 10 anos. Minha mãe e a mãe da Marcela já se conheciam há algum tempo, fizeram um curso juntas e ficaram amigas. Quando a minha mãe virou madrinha da Marcela, ela passou a freqüentar lá em casa com a Regina, mãe dela, mas era uma coisa mensal. Eu não me lembro muito bem…. Ela ia mais vezes nas férias, pra brincar com a Lu quando ela estava aqui.

– Sei… – Ana fez menção para que ele continuasse a história.

– Eu nem dava muita bola pra elas, tava mais preocupado em brincar com meus amigos na rua. Só que ai a gente foi crescendo e se aproximando… Começamos a sair, mas sempre em turma, como amigos mesmo. Mas as coisas foram mudando aos poucos. Ela deve ter sido a primeira menina que eu reparei, sabe? Ainda era moleque.

– Mas então ela foi o seu primeiro amor? – Ana não conseguia disfarçar a sua decepção.

– Não precisa romantizar tanto assim, Ana. Ela estava sempre por perto e tal, acabou acontecendo naturalmente.

– É, to vendo. – disse, num muxoxo.

– Ai Ana, se você vai ficar desse jeito eu vou parar de falar disso.

– Não, me fala. Eu quero saber como foi.

Mas antes que Gui pudesse continuar a contar, eles foram temporariamente interrompidos com a comida que chegou.

– Hmmm, esse seu espaguete tá com uma cara ótima!

– Com um prato de nhoque desse tamanho você ainda tá de olho no meu espaguete? – Ana falou, fingindo espanto. – Tô brincando! Pode provar aqui. – completou, enquanto esticava seu garfo pra ele.

– Realmente, bom demais. Vamos voltar aqui, hein?

– Sim, teremos tempo pra isso. – ela disse, balançando a cabeça em concordância. – Mas hein, continua contando ai! – e riu.

– Tá bom, tá bom. Então, algum tempo depois, por volta dos meus 18 anos, a gente acabou ficando umas 2 ou 3 vezes.

– Hm. Mas e ai?– Ana não conseguia disfarçar aquela pontinha de ciúme no tom da sua voz. Por que a Sônia não tinha um afilhado? Hein? Hein?

Entre uma garfada e outra, Guilherme ia contando a história:

–  Mas não rolou nada sério não, cada um seguiu sua vida e pronto. A gente se encontrava de vez em quando, porque temos uns amigos em comum, mas não ficamos juntos por um bom tempo. Quando eu tava com 23 anos, já terminando a faculdade, a Marcela acabou indo fazer estágio na mesma empresa que eu. Só que em áreas diferentes, ela fez administração.  Aí que começamos a nos aproximar mais, aquela coisa de ficar conversando sobre os velhos tempos e acabou virando namoro. Foi isso.

– Só? Foi isso?

– Ué, o que você quer que eu diga? Não entendi…

– E por que vocês terminaram? – Ana queria arrancar logo esse band-aid. Era melhor já saber tudo do que se deparar com outras surpresas no futuro.

– Ah Ana, nós não estávamos mais com os mesmos planos… A gente se conhece há anos e ao mesmo tempo que isso é bom, também é ruim.

– Como assim?

– A gente acaba idealizando um pouco, né? Os defeitos não surgem no começo e tal, mas depois vão aparecendo. Nós não tínhamos tanto em comum como pensávamos no início. Eu quero ter filhos, a Marcela não. Eu quero casar, ela não. Eu não vou mentir pra você que fiquei triste com o término, fiquei sim, mas depois eu entendi. Eu sempre vou ter um carinho pela Marcela, porque fomos muito amigos também. Mas não dava mais pra gente continuar namorando. E foi melhor assim.

– Entendi…

– Quer perguntar mais alguma coisa? Aproveita que hoje eu to disposto. – ele sorriu discretamente.

– Não, acho que você falou tudo. – disse secamente.

– Poxa Ana, você ficou triste?

– Não é triste. Não sei explicar. É que parece que ela fez e faz parte da sua vida de um jeito muito marcante… e isso me deixa meio assim, sabe?

– Eu to vendo. – ele respondeu com um tom afetado em sua voz. Ele parecia frustrado.

– Eu não tenho direito de te julgar, nem nada. Você tem um passado, todo mundo tem. Mas ela é um passado presente, né?

– Sim, ela é. Mas você pode ter certeza que se eu quisesse insistir nesse relacionamento e se eu achasse que tinha volta, eu tava lá tentando até hoje. Eu realmente não quero mais nada com ela, Ana. E nem ela comigo!

– Então tá bem, desculpa retomar esse assunto, viu?

– Eu entendo a curiosidade… Não precisa pedir desculpa. Eu também quero saber sobre esse André ai, você nunca me contou nada…

– É porque não tenho realmente NADA de bom pra contar – ela confessou.

– E vai me deixar curioso, então? – perguntou, erguendo as sobrancelhas.

– Não, qualquer hora eu conto sim.  – mas ela não pretendia entrar em detalhes nesse assunto tão cedo.

– Eu vou cobrar. – ele disse, rindo.

Ana e Guilherme terminaram de almoçar com o tempo contado. Despediram-se rapidamente na porta do restaurante e Ana seguiu para a empresa.

Estava no meio do caminho, quando recebeu uma ligação da chefe:

– Oi Helena, já to chegando! – Ana atendeu já dando satisfação, pois pensou que a chefe estava reclamando do seu pequeno atraso.

– Ah, tudo bem querida. É que o nosso cliente já chegou!.

– Como assim? – Ana arregalou os olhos, assustada.

– Calma, a gente tá aqui batendo um papo. Ele chegou adiantado porque ainda tá se adaptando ao fuso.

Mas hein? Fuso?  –Ana estava confusa. – Vocês são amigos? Ele é estrangeiro?

– Não, ele só tava morando fora. Eu já trabalhei com o pai ele há alguns anos, acredita? Ele está aqui me contando umas histórias da última viagem dele à Paris.

Ui ui ui, contando histórias de Paris, que metido! – Ana pensou. – Ah é?

– Então, pode vir tranqüila! Liguei porque preciso que você pegue aquela remessa do material que mandamos para a gráfica no caminho, você faz esse favor pra mim?

– Claro, faço! Chego ai daqui a pouco.

– Então tá. – e desligou.

Ana havia sido contratada para a função de revisora de texto, mas acabava fazendo um pouco mais que isso. Como a editora tinha um número reduzido de funcionários, todos ajudavam um pouquinho no que podiam. E Ana não se importava de ir à gráfica, era uma distração pra ela. Todos eram bastante simpáticos por lá e ela gostava de conversar com eles.

Ela pegou uma pequena caixa de panfletos na gráfica e correu pra empresa. O tempo estava passando muito depressa e ela ainda precisava pegar uns documentos para a reunião com o cliente.

Quando a porta do elevador se abriu, Ana viu Helena conversando com um homem alto, vestido num elegante terno cinza escuro. Ele tinha o cabelo preto e costas largas.

Helena acenou para Ana e o homem se virou para olhá-la.

Meu Deus do céu! Era o Arthur! Ele estava diferente, é claro. Bem mais alto e agora tinha barba cerrada. Mas Ana o reconheceu imediatamente. O choque foi tanto que a caixa de panfletos escorregou das suas mãos e os papeis se esparramaram aos seus pés. Que vergonha!

Ana não via Arthur há pelo menos 6 anos. Ele tinha sido o “príncipe” que dançou a valsa com ela na sua festa de 15 anos. E, por incrível que pareça, Arthur estava ainda mais lindo do que na última vez que eles tinham se encontrado.

(CONTINUA)

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