As dores e as delícias do primeiro encontro – Parte 14

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Quase duas horas depois, o filme tinha terminado. Sônia tinha cochilado no sofá e acordou assustada com a música dos créditos.

– Você hein mãe? Sempre dormindo nos filmes…

– Ah filho, domingo né? Impossível resistir. Seu pai dormiu também, eu vi!

– Papai eu nem comento, só encostar num canto que já tá dormindo!

– Ei, pelo menos eu acordei pra assistir o final. Assisti o começo e o final e entendi tudo! Já tá valendo! – falou rindo.

– Vocês são uns figuras mesmo. – completou Luísa – ô tia, aposto que a Ana tá com fome!

– Que? Eu? Não! Imagina. Não estou não…

– Bem pensado hein Lu? Quer comer de novo, ai joga a culpa na visita. – disse Guilherme, rindo.

– Bem lembrado, vou fazer um cafezinho pra gente. – falou Sônia, enquanto ia para a cozinha.

– Poxa, colou, né?

–  Claro que colou, sempre cola. – ele piscou.

– Ai gente, já está ficando tarde… Amanhã volto ao trabalho e ainda preciso ajeitar umas coisas lá em casa!

– Ah Ana, que isso! Fica pra tomar um café com a gente, depois você vai! – convidou George.

– Ana, deixa disso né? Você não vai perder o bolo da tia!

– Bom, já que vocês insistem…

– Tá vendo como sempre funciona, Gui? Eu sei das coisas! – disse Luísa, batendo no peito.

– Você não vale nada, Lulis!

Da cozinha, Sônia gritou:

– Oh, o café vai demorar um pouco porque resolvi assar um bolo pra gente. Vocês esperam, né?

– Vai acabar ficando tarde… – falou Ana, meio sem jeito.

– Tarde nada, Ana. – respondeu Guilherme. – Sim, mãe! A gente espera. Desde que seja bolo de banana! – completou, rindo.

– Será! – respondeu Sônia.

– Bolo de banana? Ah meu Deus. Agora que fico mesmo! É assim todo final de semana, gente?

– Daí pra pior, Ana. Se prepara. Pra tia Sônia, comida é sinônimo de alegria. E como ela gosta de ver todo mundo bem feliz, ela não para de fazer coisas deliciosas. É como se fosse A Fantástica Fábrica de Chocolate por aqui.

– Bem feliz e com uns quilinhos a mais, né?

– Até parece que você precisa se preocupar com isso, né Ana? – questionou Guilherme.

– Ahh… – Ana corou.

Guilherme era tão fofo. Mas também, inocente. Naquele ritmo não teria academia que desse jeito. Bem que todo mundo fala que começo de relacionamento é assim…

E já que era assim pra todo mundo, não seria diferente com ela, não é mesmo? Já que estamos na chuva, vamos nos molhar. Do prejuízo a gente cuida depois.

Os minutos passaram mais rápido do que Ana imaginava. Era tão bom conversar com Guilherme, Luísa, George e Sônia. Eles falavam dos mais variados assuntos com muita naturalidade, sempre entusiasmados.

 Ana tinha saudade desses momentos com sua família. Quando os pais se aposentaram, resolveram ir morar na casa do interior, que ficava a apenas 40 minutos da cidade, e deixaram Ana sozinha no apartamento da família. O apartamento era pequeno e Ana ganhou bastante espaço, agora que morava só. O seu antigo quarto acabou virando um escritório e ela se mudou pro quarto dos pais, que era maior. Mas ela continuaria morando com eles para sempre, só pra ter companhia todos os dias quando chegasse em casa.

Tomaram um café repleto de delícias. Café passado na hora com bolo de banana, pão de queijo e biscoitinhos amanteigados.

Por volta das 18h, Guilherme levou Ana em casa. Foram conversando amenidades no caminho e antes que ela se desse conta, já estava na esquina do seu prédio.

– Chegamos, senhorita!

– Uma pena – ela deixou escapar timidamente.

– Não é? Foi tão bom passar o dia com você. Espero que você volte lá em casa mais vezes, ninguém vai te lembrar do seu tombo. Só eu. – ele admitiu, sorrindo.

– Nossa, não me lembre, por favor. Que vergonha absurda. Só eu pra pagar um mico desses no primeiro dia na casa dos seus pais. Só de pensar me dá vontade de cavar um buraco e me esconder pra sempre!

– Você fez um teatrinho né?

– Não!!!!!! – ela se defendeu, ultrajada. – Jamais faria isso. – disse, mas não conseguiu manter a seriedade e caiu na gargalhada.

– Foi convincente Ana, relaxa. Tô só implicando com você!

– Tá bom, eu confesso. Eu fiquei deitada mais tempo do que eu precisava, estava absorvendo a realidade, sabe como é, né?

– Sabia! Eu juro que vi um sorrisinho escapando da sua boca enquanto eu gritava assustado seu nome.

– Sou uma péssima atriz– ela disse.

– Ah Ana, eu adoro as suas trapalhadas. Quando estou contigo estou sempre sorrindo. Você me diverte sem ver.

E quem diria que ser um perfeito desastre podia ter seu lado bom?

– Obrigada?! – ela indagou. Sempre fui muito atrapalhada e morro de vergonha por isso, mas já que você se diverte, acho que é algo positivo.

– É cativante, eu juro. Não mude nunca. Sabia que eu já fiquei te olhando na empresa enquanto você fazia caretas absurdas atrás do computador?

– NÃO!!!! – gritou horrorizada. – Isso é um absurdo, eu não sabia que estava sendo monitorada. – suas maçãs ruborizaram instantaneamente. – Que vergonha, sabe-se lá o que eu podia estar fazendo! Ai meu Deus. – disse, tapando o rosto.

– Ah Ana, para! Foram só 2 vezes! Mas agora que você confessou, vou ficar atento pra não perder mais. É impagável!

– Lamentável! Vou te espionar no serviço também. Tenho certeza que você faz coisas terríveis.

– Nem tanto! – ele deixou escapar um risinho.

– Bom, acho que vou indo, preciso conferir minha caixa de e-mail. Certeza que a chefe já tem pedidos pra essa semana!

– Vai lá, Ana! Quer uma carona pra amanhã?

– Não precisa! É totalmente fora de mão pra você. Além disso, devo passar na gráfica no centro pra verificar uns projetos. Fica pra outro dia, quando for necessário. Não quero abusar de você.

– Eu realmente não ligo. Mas entendo. Você vai implorar pela minha carona qualquer dia desses, tenho certeza!

– Nos dias de chuva não vou hesitar. Obrigada por hoje.

– O agradecimento é recíproco! A gente se fala!

E um beijinho de despedida se transformou em 5, até que Ana finalmente foi pra casa. Esse grudinho deve ser insuportável para os outros, mas pra eles, era ótimo.

Ao chegar no apartamento, Ana ligou o computador e sentou na cadeira do escritório. Minutos depois, estava verificando seu e-mail.

[URGENTE] – Fatos que comprovam o que eu falei!!!

– Quem poderia ser o remetente disso? André, é claro. – Ana pensou. Meu Deus, esse cara tava passando de todos os limites. Essa mensagem tinha destino certo! Lixeira. Ela clicou, sem pensar duas vezes, enviando a mensagem para o lixo eletrônico.

Mas a curiosidade era sempre maior, certo?

Restaurar mensagem. Abrir.

“Ana, resolvi mandar por e-mail, porque sei que você não vai ler minhas mensagens ou me atender novamente tão cedo.

(…)

Pelo menos nisso ele tinha razão, ela ponderou.

(…)

Lembra aquele dia do teatro? Eu te vi com o Guilherme. Então… Sabe onde eu busquei a Marcela? Na esquina da casa do Guilherme. Ela não mora lá, Ana. E você sabe muito bem disso. Eu não to nem ai pra isso, porque não to namorando a Marcela. Mas tenho certeza que você não pensa da mesma forma em relação ao Guilherme.

Pelo menos eu nunca enganei você. Pensa nisso.

André.”

Ana estava perplexa. Que empenho em cuidar da vida dos outros, hein André? Mas ao mesmo tempo ela não podia negar que aquele e-mail era indigesto. Será possível que ela estava sendo enganada mais uma vez? Ela era tão idiota assim?

Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela não conseguia evitar. Sim, era pouco tempo… Mas ela estava tão envolvida com o Gui e ele parecia tão legal com ela. Ela não tinha motivos reais pra desconfiar dele, ou tinha? Tudo parecia incerto agora.

Ana desligou o computador irritada:

– Nada de bom nessa porcaria de e-mail. Antes não tivesse ligado esse computador. – gritou. – Aos poucos recuperou a consciência e caiu em si. O e-mail estaria lá no dia seguinte e no outro também, mas pelo menos hoje ela não teria que passar por isso.

Estrago feito. Um dia tão bacana arruinado por um e-mail que ela nem tinha certeza do conteúdo. Será mesmo que Guilherme era mais um babaca na vida de Ana?

(CONTINUA)

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